domingo, 8 de novembro de 2009

RESENHA: “NOÇÕES DE PRAGMÁTICA”

Deixo aqui um trecho da minha resenha sobre pragmática:


No início do capítulo intitulado “Noções de Pragmática”, do livro “Pragmática para o discurso literário”, escrito por Dominique Maingueneau, o autor defende que, apesar de a pragmática parecer ser uma ‘ciência’ nova, que invadiu a pouco tempo as ciências humanas, ela é, na realidade, muito antiga, remontando-se à época clássica dos gregos. O que antes se chamava de retórica, segundo o autor, nada mais é que a pragmática atual. “A retórica, o estudo da força persuasiva do discurso, inscreve plenamente no campo que a pragmática batiza atualmente”(MAINGUENEAU, 1996, pág. 01).
A pragmática estuda o sentido que, aparentemente, encontra-se escondido nas entrelinhas de um texto. Quando se lê um texto, deve-se ficar atento àquilo que não aparece à primeira vista, como ideia principal, aquilo que é chamado de “ideia acessória”. Isso pode-se fazer também ao tomar uma palavra isolada, pois além de seu significado tradicional, que pode ser consultado no dicionário, ela carrega vários outros, dependendo de que quem a usa, de quem a escuta, do contexto no qual ela é dita, em que tempo ela é dita, dentre tantos outros ponto que poder-se-iam sitar.
Por isso, os estudos gramaticais não dão conta de analisar um texto, pois sua preocupação encontra-se no campo da morfologia e da sintaxe, excluindo muitos fenômenos analisados pela pragmática. Pode se dizer ainda, que a gramática pensa um texto de forma lógica e a pragmática o concebe de forma retórica, sendo a última uma ciência que estuda a língua em sua utilização, em sua prática, não somente como estrutura pré-definida. À primeira, no entanto, não se pode conceder caráter de ciência, pois suas conclusões se baseiam em dados não experienciados.
De modo muito grosseiro, seria possível ver na reflexão pragmática um esforço para repensar a ruptura entre o lógico e o retórico, ou, quando ela se torna mais deliberadamente linguística, para repensar a ruptura entre a estrutura gramatical e sua utilização. (MAINGUENEAU, 1996, pág. 03).
Por esses motivos, a pragmática se insere no campo dos estudos linguísticos, e isso se deu a partir das concepções apresentadas pelo semiótico C. Morris, que separou a semiótica em três grandes saberes, que correspondem às relações fundamentais que possuem os signos: a sintaxe, a semântica e a pragmática. O pensamento de Morris apresenta duas linhas e, em uma delas, o semiótico dicotomiza a pragmática da semântica, separando o “uso” do “sentido”, o “dizer” do “dito”.
A pragmática seria assim apresentada como o estudo não das frases como tipos, fora do contexto, mas das ocorrências das frases, desse acontecimento singular que cada ato de enunciação é. (MAINGUENEAU, 1996, pág. 05).
Partido disso, chegou-se, com John Austin, à reflexão sobre os atos de linguagem que apontaram que “o sentido de um enunciado coincide com o estado de mundo que ele representa, independentemente de sua enunciação”. (MAINGUENEAU, 1996, pág 06). Austin começa se interessando pelos chamados verbos performativos, que são verbos que cumprem o que dizem, instaurando uma nova realidade, como é o caso dos verbos jurar e batizar. Nesse sentido, para se realizar o ato de batizar e de jurar, deve-se necessariamente dizer “eu batizo” e “eu juro”.
Esse tipo de verbo, para que o ato se realize em sua plenitude, também depende do ouvinte, pois quando se diz “eu ordeno isso” e o ouvinte não entende a mensagem, o verbo perde o sentido para o qual foi dito. Para a pragmática, o outro, ou o ouvinte, será de extrema importância, pois ele é considerado um co-enunciador, que constrói o sentido do enunciado juntamente com aquele que o realizou. Esse sentido, muitas vezes, fica à margem da ideia principal, como já foi disto anteriormente.
Assim, 'será que o senhor poderia me passar a geléia?' constitui direta, literalmente, uma questão, mas deve ser decifrado pelo destinatário como um pedido (…). O pedido é disfarçado, por que se mascara por trás de uma questão (…) (MAINGUENEAU, 1996, pág. 08).
Os atos de linguagem, para serem bem-sucedidos, devem levar em contra vários aspectos, dentre os quais se encontram, por exemplo, as regras formadas pela sociedade, ou seja, os acordos sociais. Nesse sentido, “o ato de cumprimentar uma pessoa, por exemplo, é enunciado de modo apropriado se estamos vendo alguém pela primeira vez naquele dia” (MAINGUENEAU, 1996, pág. 16). Por isso, a pragmática coloca em jogo o aspecto altruísta, ou seja, entra em cena o “tu”, que por muito tempo foi marginalizado pela linguística estruturalista de Saussure.

Referência Bibliográfica:
MAINGUENEAU, Dominique. Pragmática para o discurso literário. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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