segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ROMANTISMO



ROMANTISMO


DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A POESIA ROMÂNTICA DE ÁLVARES DE AZEVEDO E CASTRO ALVES.

INTRODUÇÃO

A ideologia romântica introduziu-se no Brasil em 1836, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves Dias e perdurou até 1881, com o surgimento de O Mulato,
de Aluísio Azevedo, iniciando reforma realista e naturalista em nossa letras.
O Romantismo apresenta como características gerais o anarquismo, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo. Este movimento literário apresenta três momentos percorridos pela metamorfose romântica, também conhecidos como gerações:

1 – período de implantação e definição do novo credo cultural; representam-no Gonçalves Dias, na poesia, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar, na prosa, e Martins Pena no teatro.
2 – período em que se instala a moda byroniana em poesia, com Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela.
3 – equivalente às últimas décadas da época, em que se presencia a gestação do Realismo e, portanto, o desmoronar do Romantismo, com Castro Alves, na poesia, e Visconde de Taunay, na prosa.
Apresentaremos a seguir, as diferenças e semelhanças entre dois dos escritores mais significativos de nossa poesia romântica: Álvares de Azevedo e Castro Alves.
Estes autores pertencem a gerações diferentes do movimento literário - Romantismo. Discutiremos o contexto histórico de cada momento, as influências de outros autores nas obras desses poetas, estilo de linguagem e como desenvolvem os temas mulher e morte em suas obras.

ÁLVARES DE AZEVEDO

Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, a 12 de setembro de 1831. Em 1848, matricula-se no curso jurídico e trava amizade com Bernardo Guimarães, Aureliano Lessa e outros, que então constituíam a “Sociedade Epicuréia”, fundada em 1845 e destinada a repetir no Brasil a existência boêmia de Byron. Acometido de tuberculose, vem a falecer a 25 de abril de 1852.
O homem da segunda geração do Romantismo, fica no horizonte de dois mundos. Pela alma espiritual e livre participa do divino e aí reside sua grandeza, pelo corpo participa da natureza material e aí reside sua desgraça. Padece de indefinida nostalgia que se esconde atrás de separações da infância, do lar, da amada e da pátria.
Ao mesmo tempo, sente uma insuportável melancolia, um tédio pela vida e, por este mundo, que os cristãos também chamam de século, daí o “mal do século”. Há, na alma, um vazio que nada preenche.
A mulher apesar de endeusada, serve apenas de instrumento de elevação do homem. O amor acorda no coração a saudade do infinito, mas só a morte abre as portas do infinito. Enquanto dura a jornada obrigatória do homem neste mundo, só lhe aguarda o sofrimento, a tristeza e a dor que dá sentido à vida, purifica e educa.
Álvares de Azevedo sofre influência de Heine, Musset, Lamartine e principalmente de Lord Byron. Todos seus poemas transcritos apresentam o tema da morte, humor meio negro, cultivo das flores do tédio e amor que não se concretiza.
Em seu poema, Lembrança de morrer por exemplo, o poeta organiza o texto em torno da relação amor/morte, sendo a morte uma fonte de evasão para o amor e mulher idealizados. Estes elementos são claramente evidenciados na terceira e sétima estrofes.
[...]
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
[...]


[...]
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei...que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
[...]

O subjetivismo romântico se traduz linguisticamante na obra, pelo uso da primeira pessoa do singular, para expressão de sentimentos e emoções. A natureza é descrita com melancolia e tristeza; é sombria e escura. Ligada à idéia da morte, transparece sua antítese, a vida, que para o poeta é um tédio, solitária, pois não tem a amada.
[...]
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
[...]
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
- foi poeta – sonhou – e amou na vida.
[…]
Seus textos são nervosos, ágeis, ciclotímicos e com um vocabulário e um estilo nem sempre apurados, como aliás é típico do Romantismo. Perturbado pelo imaginário, o desejo que se apresenta nos poemas é oscilante, medroso, contido e tangenciando ao juvenil.





CASTRO ALVES
Antônio de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847, em uma fazenda no interior da Bahia. Em 1864 ingressa na Faculdade de Direito do Recife onde granjeia desde cedo notoriedade como poeta inflamado. Vai para São Paulo a fim de prosseguir o curso jurídico, porém continua a escrever. Fere o pé em uma caçada e é operado no Rio de Janeiro. De lá segue para a Bahia, já minado pela tuberculose, falece em 6 de julho de 1871. É conhecido como “poeta dos escravos”.
Esta geração apresenta um traço de união entre o Romantismo agonizante e o Parnasianismo emergente. As poesias são de cunho político e social. O romântico solidariariza-se com o universo e, desta confraternização deriva a atitude de simpatia por todos os seres, em especial, pela humanidade.
A relação entre o infinito e o indivíduo realiza-se pela mediação de entidades coletivas. A mais importante destas entidades é a nação que compreende um povo que se organiza politicamente num território. A nação só se completa com a constituição do Estado que conjuga povo e território sob a liderança de um governo.
Castro Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico condoreiro (que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870). Os poetas condoreiros foram influenciados diretamente pela poesia social de Vitor Hugo - o Condoreirismo é o hugoanismo brasileiro.
Em vários poemas de Espumas Flutuantes, principalmente os de temática existencial, evidencia-se ainda a influência do ultra-romantismo, de seu conterrâneo Junqueira Freire e Álvares de Azevedo.
No entanto, em seu poema Mocidade e Morte, o poeta expressa sua visão bem diferente da existência. Demonstra uma imensa paixão pelo mundo, e a vida é vista com otimismo e prazer.
[...]
Oh! Eu quero viver, beber perfumes perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’ alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares,
[...]

[...]
Morrer...quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! O seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
[...]

Em Quando eu morrer, escrito em março de 1869, pouco antes de falecer, ele repudia a morte:
[...]
Quando eu morrer... não lancem meu cadáver No fosso de um sombrio cemitério... Odeio o mausoléu que espera o morto Como o viajante desse hotel funéreo
[...]
Em "Adeus" de Teresa, o poeta desenvolve os temas amor e mulher demonstrando intensidade na expressão do sentimento e da experiência amorosa realizada também no plano físico, enquanto desejo e envolvimento sentimental e carnal. Sua amada é concreta, existe e não é fruto da imaginação.
[...]
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa...
E ela entre beijos murmurou-me: "Adeus!"
[...]
Em seus textos, Castro Alves, a poesia social é caracterizada pelo discurso retórico, declamativo, uso exagerado de hipérboles e antíteses, acúmulo sucessivo de metáforas. A poesia lírico-amorosa é muitas vezes de fundo autobiográfico.

O DESENVOLVIMENTO DOS TEMAS MULHER E MORTE NAS OBRAS DE ÁLVARES DE AZEVEDO E CASTRO ALVES

Observamos nos trechos extraídos de obras dos autores acima citados que, apesar de pertenceram a gerações do Romantismo com contextos históricos e características diferentes, apresentaram poemas em que temas iguais foram desenvolvidos. Analisaremos a seguir como estes poetas expressaram suas visões sobre a mulher a e morte em seus textos.
Para Álvares de Azevedo, a mulher ora se mostra, ora se esconde. O sonho e a fantasia se misturam principalmente através do jogo metafórico na erotização da mulher. A mulher sensualizada é apresentada sempre através das metáforas sonho, fantasia, nuvens. É portanto, idealizada e distante.
A morte é solução para todos os problemas, pois liberta o homem da prisão da carne e livra-o deste exílio. É a recompensa da vida. Deixa registrada a sua incapacidade de adaptação ao mundo real e sua capacidade de elevar-se a outras esferas através do sonho e da fantasia para, por fim, refugiar-se na morte, certo de aí encontrar a paz tão almejada.
Em Castro Alves, a mulher é descrita com vigor, desejo e sensualidade, através de metáforas da natureza. A amada é real, de carne e osso e a paixão envolve e motiva o poeta a traduzir o relacionamento amoroso em versos. Essa visão pode ser classificada não só como sentimental, mas também como sensual, entendida como uma poesia que apela aos sentidos (sensorial).
A morte não é o escape, a solução para a dor vivente, e sim o fim do movimento e da alegria de viver. É portanto uma ameça, pois afasta o morto do calor dos sentimentos da vida e viver é “glória!”, “amor!”, “anelos!”.

Cydy






BIBLIOGRAFIA

Livros

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira, 16 ed. Bertrand Brasil, 1995.
MOISÉS, Massaud. Literatura Brasileira através dos textos, 22 ed. São Paulo: Cultrix, 2000.
TRINGALI, Dante. Escolas Literárias, 1 reimpressão, São Paulo: Musa, 2002.

Sites

. Acesso em 06 abr. 2009
. Acesso em 06 abr. 2009
. Acesso em 10 abr. 2009
. Acesso em 12 abr. 2009.

2 comentários:

  1. Esse foi meu melhor trabalho de literatura com o professor Guilherme- 2008.
    cydy

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  2. Parabéns!!!! Literatura me encanta....explica o mundo e todas as transformações sociais que passamos ao longo da nosa história.

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