sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Controlador de Sonhos

CAPÍTULO 1

Francisco havia acordado naquela manhã de inverno sentindo-se diferente, não sabia ao certo o que tinha mudado em seu ser, mas tinha consciência de que existia algo diferente. Ainda na cama, se espreguiçou pondo em pé seu corpo de um pouco mais de um metro e sessenta. Sempre fora chamado de baixinho, pelos colegas de trabalho, amigos de escola, familiares... Não se incomodava com isso, até gostava do apelido, e achava que era uma forma carinhosa de chamá-lo. Caminhou ainda um pouco sonâmbulo até chegar ao banheiro, ligou a torneira da pia, a água começou a escorrer, gélida como um cubo de gelo. Baixinho lavou o rosto e, aos poucos, foi acordando. Olhou-se no espelho e, vendo seu rosto desbotado pelo tempo, a dúvida voltou a questionar seu intelecto. O que havia acontecido com ele? Realmente Francisco não sabia. Talvez tivesse sonhado com algo que não se lembrava, alguma coisa importante que mudaria sua vida! Poderia ser, mas o que comprovaria isso. Assim, em vagos pensamentos, saiu para caminhar na rua, a fim de se distrair um pouco...
Na rua da Aurora, onde morava, todos o conheciam e o cumprimentavam.
- Bom dia Baixinho, como dormiu essa noite? – perguntou Luiz, jardineiro há anos da casa vizinha, que conhecia o garoto desde a tenra infância.
- Dormi bem, mas algo me aconteceu e não sei dizer o que! – respondeu Francisco.
- Como assim, não sabe o que aconteceu?
Francisco caminhava tão no mundo da lua que nem sequer ouviu a segunda pergunta do jardineiro. De repente, lembrou-se de Carlota, uma namoradinha que teve na infância, nos tempos idos de colégio. Baixinho era apaixonado por Carlotinha, era assim que a chamavam. Por onde andaria ela? Há mais de trinta anos que não a via. Foi então que se lembrou, como num passe de mágicas, que havia sonhado com a menina. Menina sim, pois no sonho, ele era menino também.
CAPÍTULO 2

Carlotinha também pensava no namorado de infância todos os dias. Ela sempre acreditou que o primeiro amor marca para sempre a vida das pessoas, e que algo sobrenatural uniam suas almas pela eternidade. Carlotinha era linda, branca como as nuvens e seus olhos se destacavam em seu rosto, pois pareciam duas jabuticabas maduras e de tão negros que eram, às vezes, tornava-se impossível ver-lhes a menina dos olhos. Era meiga, e quando sentia-se envergonhada, sua face se avermelhava, demonstrando aquilo que sentia. Era o tipo de garota que todos os rapazes de apaixonavam e tida como a mais linda do colégio. E isso não era sem sentido, pois Carlotinha havia ganhado vários concursos de beleza e o primeiro havia ocorrido na própria escola. Lembrava-se perfeitamente daquele dia. Colocou seu melhor vestido que possuía uma fita circulando toda a cintura. Sua mãe, dona Joana, a ajudara com o laço que pendia pela perna e chegava até próximo ao joelho. Os julgadores do concurso seriam vários alunos, pré-escolhidos por votação e que elegeriam, também por votação, a mais bela do colégio. Chegou o momento final do concurso, e Carlotinha estava empatada com uma amiga sua, Virgínia, oito a oito e coube ao seu namoradinho de infância, ao Baixinho, dar o veredicto final. Ele votou em Carlotinha, a menina que amava em segredo. Ela foi sagrada então, princesa do colégio e como agradecimento ao garoto que havia lhe dado o último voto, deu-lhe um selinho às escondidas e depois disso passaram a se dizer namorados.
A menina também não sabia o que havia lhe acontecido, mas algo também estava mudado em seu ser, e de repente, começou pensar em Baixinho, com quem também havia sonhado, de uma maneira que nunca tinha pensado antes, e parecia que ele estava verdadeiramente presente ao seu lado. Lembrava-se do primeiro selinho, das brincadeiras no intervalo da aula, do dia em que Baixinho arrumou briga por conta dela com um garoto que era o dobro de seu tamanho, da flor que colheu no caminho da escola para casa e lhe deu... Essas lembranças voltaram de forma intensa, tão forte que decidiu tentar encontrá-lo. Mas por onde começaria a procurá-lo, não sabia e logo desanimou. Quis dormir e sonhar com o garoto novamente, para encontrá-lo em seus sonhos, fez isso e realmente ele se fez presente de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário